O anúncio de que vai largar a Prefeitura de São Paulo para se lançar governador do Estado, feito pelo atual prefeito João Doria (PSDB), foi um golpe para muitos eleitores paulistanos. O embrólio faz lembrar o que acontece corriqueiramente no mundo do futebol, com treinadores e jogadores quando vestem a camisa de um novo clube. Eles declaram amor, fazem promessas e assinam longos contratos, mas, na primeira proposta tentadora de outra agremiação, o sujeito acena o boné e vai embora.
Há um ano e meio como prefeito, Doria declarou por diversas vezes que não abandonaria a Prefeitura, mas, no fim das contas, fez como ex-prefeito e hoje senador José Serra (PSDB), que largou o cargo para se lançar governador, e posteriormente presidente da República. Se confirmada a saída de Doria, quem assume é o vice-prefeito Bruno Covas. Doria garante continuidade, no que ele gosta de chamar de "gestão compartilhada", o que é uma grande bobagem. Quando um candidato assume o cargo de prefeito, ele traz seu grupo de confiança e firma-se uma dinâmica de relações entre os demais parlamentares. Quando há uma troca, principalmente abrupta, há descontinuidade do trabalho. Além disso, cargos de confiança como de secretários deverão sofrer alterações, assim como os comissionados. Toda essa mudança certamente traz consequências para a cidade. A Câmara dos Deputados se valerá desse momento, com toda certeza, para refazer acordos de cargos e de espaços no governo, o que também é prejudicial ao planejamento de São Paulo.
Doria vai abandonar muitos projetos em andamento, os quais Bruno Covas terá que se virar para resolver, como a Lei do Zoneamento, a condução da parte final da licitação dos ônibus e avançar no plano de desestatização de parques e terminais, por exemplo. Ele terá pouco mais de dois anos para conseguir garantir que o programa de metas estipulado por essa gestão seja cumprido.
Se nenhuma cidade deveria servir como trampolim para cargos mais renomados, o que dizer de São Paulo, a mais rica do país, e que demanda muito, mas muito comprometimento. Pobre São Paulo.