Começa hoje a exibição da propaganda eleitoral gratuita na televisão e rádio para todo o país. A maioria dos eleitores, que também é espectadora e ouvinte, torce o nariz, pois sabe que vem pela frente uma enxurrada de personagens anônimos, oriundos do folclore, da comicidade e da bizarrice. Há também os candidatos majoritários, conhecidos pela presença constante na mídia, mas que são rejeitados pelo discurso inócuo e prolixo. A bem da verdade, o horário político sobrevive apenas por força da lei. Se dependesse do público, já estava extinto há tempos.
Entretanto, como ele existe e vai invadir as casas até o dia 4 de outubro, o melhor a se fazer é tirar proveito, no bom sentido, e usá-lo para avaliar os futuros governantes antes de tomar a difícil decisão de escolher os melhores, mesmo que isso possa parecer uma utopia. Com base nessa proposta inevitável, a ocupação do tempo se converteu em propaganda, na essência de sua definição. Mais do que mostrar as qualidades de um candidato, é imperioso construir a sua imagem, ou seja, o produto deve ser vendido pela embalagem que o envolve.
Cientes dessa fragilidade do eleitorado, os candidatos se cercam de bons profissionais da publicidade, que consomem milionárias fatias das verbas de campanha, para conquistar os votos. Já no primeiro dia, temos um bom exemplo desta tática. O presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) coloca no ar um vídeo, no qual argumenta que "não é na bala que se resolve", numa clara referência a Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de voto. O filme tem requintes de superprodução, com uso de câmera lenta, trilha sonora de qualidade e apelo emocional.
Mesmo desarmado pela limitação de apenas oito segundos no horário eleitoral, Bolsonaro certamente tentará o troco, o que dá mostras de um embate anunciado. De restrita habilidade verbal, comprovada pela participação tragicômica no Jornal da Globo na última terça-feira, o candidato tem dificuldades em ocupar espaço na mídia. Na largada da propaganda eleitoral, o capitão pretende apelar para a mídia social como principal aliada na campanha. Chumbo grosso vem aí.